O que é mais valioso?
Quando se toma a decisão de partir e se está ciente de que muito peso não pode carregar?
Poucos minutos para pensar, decidir e seguir a dura e estrada fria?
E que o momento é de reunir os bens que possue para seguir: momento de reunir os documentos, os desenhos, os livros, as músicas infantis compostas.
Momento de maior tesouro, momento de maior angustia, momento de decidir onde se deva transladar a sua própria identidade, o que de fato és.
A carta de referência que os patrões realmente pedem, de onde você veio, a carta de apresentação para mostrar em qualquer parte que esteja ou vá.
Quando se caminha pela estrada tem que se suportar psicologicamente o percurso para vencer a distância, curva após curva, retas após reta.
E anda, anda, anda com o desejo de alcançar o porto seguro que talvez não exista, mas apenas em sua imaginação.
Por isso, se dispõe a caminhar, caminhar aonde talvez nunca alcance, mas que se tem esperança.
Ora , a estrada é fria e solitária.
E é o único meio de ligação ao destino.
Ao lado, há só montes, campinas, árvores e rios.
E para os menos desfavorecidos é conhecida também como o trecheiro.
O trecheiro é uma palavra desconhecida. E só é conhecida por aqueles que trilham nele.
O trecho é distinto do trecheiro.
O trecheiro é uma pessoa que vive de albergue em albergue, ele geralmente não tem dinheiro, no entanto sua meta é conseguir um trabalho. Porque quem vive no trecho nem sempre vive de albergue em albergue.
Por não gostar de se albergar e viver nas casas abandonadas, debaixo de pontes, viadutos, andando a pé a Kilometros, pois a eles tanto faz, ou tanto fez. São pessoas que vivem aquém da sociedade.
Agora, o trecheiro são peões que fazem o êxodo rural, que trabalham numa fazenda aqui e acolá e quase sempre são enganados por gatos, vulgos empreiteiros.
Os quais são classificados em três tipos: O brindado, o aranha e o peão.
O peão brindado é aquela pessoa que trabalha mais do que os demais peões. O peão normal é aquela pessoa que produz normalmente. E o peão aranha é a pessoa que produz abaixo da média.
Numa destas minhas tribulações deparei com um rapaz que me chamou a atenção.
È impossÃvel de se não fazer amizades. As pedras sempre se encontram. Tanto eu arrebentado como ele, só que eu estava um pouco além dele, pelo motivo que vou explicar: Eu tinha como vender alguma coisa e ele não.
Senti compaixão e decidi não deixá-lo para trás.
Decidimos ir até Santos e tentar entrar num cruzeiro como funcionário.
Como tÃnhamos pouco dinheiro, foi necessário ficar em albergues.
Trabalhar em certos pontos, comer e isto decidi fazer com ele que tornara um companheiro de estrada para mim. Ninguém vive numa ilha.
Eu podia ter chegado em Santos como ele mesmo falava a mim:- Vai, pode me deixar, eu não quero te atrapalhar .
-Não, amigo. Vamos chegar juntos lá.
Então, trabalhei por mim e por ele. Dei de comer a mim e a ele. E ouvi suas histórias. Ele me contou que trabalhou num cruzeiro uma vez e que chegou a ir aos Estados Unidos, tinha esposa e filha. Mas que num momento de bobeira, decidiu sair do navio e ai foi quando começou a cair em desgraça. Perdeu famÃlia. E por esta razão estava ali comigo para tentar alcançar mais uma chance. Mas quem não dá bobeira? Eu mesmo, estava saindo de uma grande mancada.
Dava uma dó dele, ele não era um mal caráter, cara legal, não bebia, nem fumava e andava com uma sacola de roupa na mão. Para ser preciso, uma trouxa.
Chegamos em Santos, nada deu certo, tudo mudou, seus companheiro estavam bem e eu segui meu caminho, voltei a São Paulo e nunca mais o vi.
Fica apenas minha oração a Deus por este rapaz, a fim de que o AltÃssimo, o abençoe onde quer que esteja.
Todas estas pessoas meus olhos viram.
E me serviram de aprendizado para mim.
JORGE KAALEBE